Muitas coisas me fizeram finalmente
escrever esse post: a vontade desde sempre de falar sobre esse assunto, uma
conversa que tive com uma amiga minha (finalmente achei alguém que pensa como
eu sobre a Summer!) e um debate no fórum feminista, em que vi que muita gente
também pensava como eu. Eu vi (500) dias com ela [(500) days of Summer,
originalmente] há dois anos, no mínimo. A minha opinião sobre o filme (e sobre
os personagens) foi mudando a cada vez que eu via e crescia também. Sempre
gostei do filme, por diversos fatores, e mesmo tendo uns 14 anos eu já percebia
algo: não, a Summer não é puta/vadia/sem coração.
Pra quem não sabe, o filme conta a
história de Summer (Zooey Deschanel) e do Tom (Joseph Gordon-Levitt) —
esses da foto — e logo no início do filme já ficamos sabendo que eles não
terminam juntos. Basicamente, o filme é um amontoado de todas as lembranças do
Tom, sem ser em ordem cronológica (aspecto que me fez gostar muito do filme) e
o espectador vai aos poucos entendendo como tudo aconteceu. Eles se conheceram
quando a Summer começou a trabalhar na mesma empresa que o Tom (que apesar de
ser um arquiteto, trabalhava com cartões) e de cara o Tom se apaixona por ela
(isso pra não dizer que começa a ficar obcecado né). Eles se conhecem melhor,
acabam se envolvendo, mas ela desde o começo deixa claro pra ele: “eu não quero
nada sério”, “eu não acredito em amor”, etc. Bem, o que você faz quando alguém
propõe algo assim? Se aceitar, é porque tá ciente das condições. Se não, beleza
também, você queria algo sério e a pessoa não, não há o que fazer. Mas o Tom
não. Ele é louco por ela e realmente acha que com o tempo ela também vai se
apaixonar perdidamente por ele.
Só que... isso não acontece (por que será
né?). Aí, surgem várias brigas, discussões, crises (por parte dele) e por fim,
eles terminam mesmo. E sabe o que o brilhante Tom faz? Fica com raiva dela!
Nossa, mas realmente! Que babaca essa garota, hein! Ela não quis nada sério
comigo, deixou isso bem claro desde o início! Vê se pode! (oi?) No fim, a
Summer acaba se casando com outro cara e realmente passa a acreditar em amor e tudo
mais e (tcham, tcham, tcham)... Tom se irrita com isso! Mas que absurdo
né, comigo ela não queria nem namorar e com ele ela quer casar? Tá certo isso,
gente?
Hum... Tá, Tom. Olha, talvez fique meio
difícil ter total noção disso quem não viu o filme, mas a Summer era uma garota
fantástica! Em gostos, em personalidade, em caráter e em MATURIDADE. Coisa que
o Tom nunca teve. Sabe por quê? Deixa eu te dizer uma coisinha: nenhuma garota
é obrigada a se apaixonar por você. Por mais “legal”, “fofo” e “apaixonado” que
você seja. E coloco esses termos entre aspas porque num filme pode parecer
muito fofo um cara obcecado e que mete na cabeça que a menina é sua alma gêmea
e fará de tudo pra ficar com ela, mas na vida real é beeeem diferente. Afinal,
quem é que te dá o direito de decidir por ela se você é o amor da vida dela?
Sabe o que isso me parece? Machismo. “Ain, feminista mal amada, eca”. Não,
queridx. Eu acredito em amor, eu acredito em se apaixonar (por mais que não
acredita em alma gêmea), de verdade. Não acredito é em garoto babaca que acha
que tem direito de mandar nos sentimentos dos outros e se acha injustiçado
porque alguém não quis passar o resto da vida ao lado dele.
Mas o foco do post não é Tom (ou quão
babaca ele é). O foco é mostrar pros viewers que a Summer não é babaca, nem
heartless! A Summer simplesmente não tinha certeza de que queria aquele cara,
oras! E o que há de errado nisso? “Ah, mas o Tom é perfeito, poxa!”. Perfeito?
Sério? Cê acha um cara obcecado e sem noção perfeito? Gente, pera lá né. O Tom
é o tipo de cara possessivo, que vai se revelando aos poucos (e no fundo muito
inseguro de si mesmo). Ele criticava mulheres pela forma como elas se vestiam
(lembram da cena no bar?), bateu num cara após ele dar em cima da Summer e zoar
o Tom (oh! Pobre Summer, precisa ser salva pelo Tom! Sure, senta lá) e de uma
hora pra outra passou a odiar a Summer por ela terminar com ele. Nossa,
perfeitinho hein! Quero um desses pra mim (só que não). Então, primeiro passo,
lindos: parem de achar que o Tom é vítima nessa história (até porque, o
propósito do filme é justamente mostrar o amadurecimento psicológico dele – ele
melhora bastante, fica mais confiante em si mesmo e até volta a exercer sua profissão
de verdade no final – e não ficar de babaquice porque a menina não quis ficar
com ele). E aliás, sabe quem ajudou o Tom a vencer as inseguranças? A sem
coração da Summer! Ohhhh! Como pode né? (risos)
Mas agora vamos ao segundo ponto: ainda
que o Tom fosse um cara foda, bacana, legal e não possessivo e se a Summer não
tivesse estipulado isso de que não queria nada sério, será que ela estaria tão
errada assim em sair fora? Não. E sabe por quê? Nós somos seres humanos e
mudamos de ideia, deal with it. Eu não sei em que vocês acreditam (amor
verdadeiro, pra sempre ou que nada disso existe), mas acho que todos devemos acreditar
que no mínimo respeito é necessário. Ser dispensado dói pra caramba, óbvio,
você gosta da pessoa. E ninguém tá tentando te dizer que tá errado você sofrer,
mas descontar isso na pessoa que terminou com você, só porque você acha que ela
tá errada, é no mínimo burrice. Porque that’s life.
Mas agora o terceiro ponto da história
(que é o mais feminista de todos, hehe): a mulher tem o direito de mudar de
ideia, de sair fora. E mesmo casada, porque (again) pessoas mudam de ideia,
você gostando disso ou não. E acho principalmente engraçado como que isso
acontece com uma... mulher! Será que se fosse o contrário teria tanta gente
contra a Summer, tanta gente a favor desse babaca e pouquíssima gente
entendendo o propósito do filme? Acho que não, hein. A verdade é que chamar
mulher de vadia, puta e tantos outros termos pejorativos já virou costume na
nossa sociedade há muito tempo e é isso que me preocupa. Esse ódio todo pela
personagem é porque ela simplesmente terminou um relacionamento com um cara. E
isso não é normal. Isso é possessão, obsessão, machismo. Porque a mulher não é
sua, ela é dela (e mesmo se fosse sua namorada, noiva ou esposa). Ela tem o
direito de mudar de ideia, sem sofrer represália por isso. A Summer não é
malvada, ela é madura e muita gente simplesmente não enxerga isso. E se fosse o
contrário, se ela fosse a possessiva da história, aposto que teria muito homem
dizendo que ela é puta, vadia e idiota também (coisas que não dizem do Tom).
E algo preocupante sobre o Tom é que as
pessoas realmente acham esse tipinho de cara normal. Pois lhes digo: não é. O
Tom é o famoso “nice guy”, ou seja, o cara que adora se afirmar como legal,
respeitador, que se apaixona, que é romântico, mas é o mesmo cara que não sabe
respeitar que a menina simplesmente não goste dele (ui, não gostou de mim, logo
eu, O HOMEM MARAVILHOSO? Puta!), que a menina não queira mais nada com ele ou
se ela for diferente do que ele julga legal é puta também. Conheço um monte
assim e quero eles longe de mim (e de todas as outras mulheres).
Bem, gente, que tal saber olhar a Summer
(e todas as Summers da vida real, que sofrem com essa mesma situação) de forma
diferente? Garotas inteligentes, independentes, maduras e super bacanas!
Garanto que elas têm uma visão bem diferente desse tipo de relacionamento.
E pra quem nunca viu o filme, vejam e
tirem suas próprias conclusões! Acho a fotografia e a trilha sonora bem legais
também (e se souber entender a proposta, também vai gostar). Abraços e beijos
libertários!
P.S.: se você acha que eu exagerei, dá uma olhada no que o Joseph acha do seu próprio personagem: http://www.huffingtonpost.com/2012/08/17/joseph-gordon-levitt-500-days-of-summer-selfish_n_1795676.html
14 comentários:
1- Não sei, eu nunca vi a Summer como puta e sem coraçao, nunca vi o Tom como perfeito. Na verdade, pra mim o filme não é sobre alguem ser bom e o outro mal, é sobre como as pessoas num geral criam fantasias em relacionamentos, como elas se decepcionam (muitas vezes por culpa delas mesmas) quando as coisas nao ocorrem como o esperado, como as vezes a gente acha que encontrou a mulher/homem de nossas vidas mas na verdade não era.
2- Muita gente passa por decepçoes, sejam homens ou mulheres. Acho esse filme muito bom porque, indo ao contrario do que voce disse, ele é um dos poucos que mostra o outro lado. Normalmente nos filmes de comedia romantica (ok, esse filme não é comedia romantica mas apenas a titulo de comparaçao) a mulher leva um chute e fica chorando, mas nesse filme não, ele mostra como os homens podem passar por isso tambem, como pode acontecer com todo mundo, tira esse estereótipo de mulher sofredora que precisa de um homem pra ser feliz. Então totalmente contrario ao que voce pensa, eu nao acho que esse filme é machista.
3- Acima de tudo, defendendo um pouco o Tom, eu acho que ele entrou no relacionamento porque, alem daquilo fazer ele feliz, ele tinha esperanças que a Summer se apaixonasse por ele da mesma forma. Ele ficou puto e decepcionado por nao ter sido o homem que ela escolheu, nao porque ele era perfeito, mas porque ele queria ter sido esse homem que faria ela feliz, que estaria ao lado dela.
Por fim, nao li o que o ator acha do seu personagem, mas acho que nao importa muito, cada um tem sua opiniao e visao sobre as coisas, só nao sei se a gente deve ser tao extremista, afinal ninguem sabe bem o que passava na cabeça do diretor ou de qualquer outro envolvido na produção do filme. O importante é debater o assunto e tentar ver as outras interpretaçoes que as pessoas tem :)
Abraços!
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Olá leitor(a)! Bom, eu espero que tenha gostado, mas antes de deixar um comentário, lembre-se de ser educada(o). Sou meiga, mas tenha educação, não custa nada afinal.