31 de mar. de 2015

um amor chamado cícero rosa lins


Há mais ou menos uns três anos atrás uma amiga minha me falou que eu tinha de ouvir um cara. Ela me mandou o clipe de "tempo de pipa" e a partir daí eu sinceramente posso dizer que minha vida nunca mais foi a mesma. Certamente se você tem aquela banda ou artista solo bem especial, sabe do que eu  falando. É quase que um sentimento transcendental, em alguns momentos parece que ela, ele, eles ou elas falam por você, de uma maneira que você nunca achou poderia colocar em palavras. Pois é, comigo foi (e continua sendo assim com o Cícero). O menino lançou em 2011 seu primeiro disco solo, Canções de Apartamento, após já ter sido vocalista da extinta banda Alice. Ao longo desses anos em que ele esteve presente na minha vida, o que sempre me fez amá-lo era justamente como que suas obras se adequavam à minha vida. Algumas músicas descreviam minhas situação naquele exato momento, outras coisas que já tinham acontecido e até mesmo situações que ainda estavam por vir. Em 2012, quando ouvi o Ciço (pros íntimos) pela primeira vez, Canções se adequava totalmente ao momento em que eu me encontrava. Num primeiro momento, a todas as coisas boas: vagalumes cegos, ensaio sobre ela etc. Passou um tempo e já em 2013 músicas "Açúcar ou adoçante?" e "Pelo interfone" conseguiam transcrever o que eu sentia profundamente, de uma tal maneira que sequer imaginei possível. Pois bem. Nesse momento, ele já tinha se transformado num cara super conhecido pelo Brasil todo (que bom!) e parecia que havia essa unanimidade de sentimento: o cara sabia o que tava falando. Canções é um álbum sentimental, fluente e cheio de coisa pra confessar. É apaixonar-se da maneira mais bonita possível e igualmente intensa; na mesma medida, sentir seu coração sangrando quando tudo acaba e cantar isso pra pessoa amada. Canções é aquela coletânea de pensamentos íntimos (tão sinceros) que a gente queria poder gritar em certos momentos. Ele faz isso pra gente. E por isso certamente foi um sucesso tão grande, não há quem não se identifique com essa vivência: o amar demais, sofrer demais, sentir demais - a um tal ponto que poderia transbordar. 

Aí chegou o fim de 2013 e com ele veio "Sábado", o segundo disco dele. Confesso que em um primeiro momento foi meio estranho. Sábados não é Canções nº 2 e honestamente fico muito feliz que não seja. Mas muita gente queria que fosse, queria a um tal ponto de não conseguir gostar de uma obra extremamente sensível. Sábados não veio transbordando, veio como um fim de semana raso, sem cor; aquelas reflexões dos momentos vazios e dolorosos da nossa vida, em que não sentimos mais uma dor aguda pelas perdas e derrocadas, mas ao mesmo tempo a falta do que sentir e dizer nos machuca. Esse machucado pra mim é lindo. E a maneira como esse álbum retrata isso me fascina. "Porta, retrato", minha favorita do álbum, é uma melodia muito conhecida por qualquer um pós-rompimento: o que dizer àquele alguém que até pouco tempo era tudo, mas agora você nem sabe mais o que é? Certamente é um amigo, certamente alguém que você não quer perder; mas esse meio termo entre o sofrimento de um amor perdido e findo e o início de algo (o que quer que seja) novo na vida é a coisa mais estranha. É um vazio, mas não uma dor. É uma falta de referência tamanha e isso nos faz perambular por nossa mente à procura de respostas, saídas - no mínimo uma saída para mais uma noite solitária e cinza. Ufa! Pois bem, Sábado não foi bem recebido, alguns dizem que ele não soube fazer o que devia, outros dizem que na verdade esperavam que o Cícero repetisse o feito anterior e se decepcionaram. Qualquer que seja a opção, eu sinceramente espero que essa insatisfação mude com a chegada do terceiro álbum (aka lindeza), "A Praia". Mais uma vez, esse carioca maravilhoso de Santa Cruz (d)escrevendo meu momento. A expectativa era grande, o nome do disco já era bonito. Só veio confirmar ainda mais sua beleza e genialidade. A vibe agora é outra. Não cabe mais ficar andando em círculos de incerteza e imprecisão, é tempo de recomeço. É um mergulho (numa água maravilhosa cristalina e cheia de vida). O disco saiu há quatro dias e já tenho umas 180 execuções no Last.fm. A minha música favorita, De passagem, tem um trecho que resume bem:

na onda leve da brisa do dia / na onda longa do trem / da onda leve da brisa do dia / eu encontrei o meu bem / não era fogo, nem alegoria / não era fuga também / não era medo da melancolia / era o dia de bem 

É um renascer. Os relacionamentos (e não apenas os românticos e sexuais) são grande parte do que define nossa trajetória e existência. Amar alguém com a sorte de um amor tranquilo (opa, referência detectada), sem o "afobamento" que muitas vezes mais prejudica do que ajuda, é uma experiência única; o amor sem ser fuga de problemas ou medo de ficar sozinho (e encarar seus demônios) é simplesmente isso: o dia de bem. A sorte (ainda que de maneira harmônica) nos presenteia com pessoas inesperadas, amores e felicidades não planejadas, que surgem em meio a tudo de tão comum e até cansativo das nossas rotinas. "A praia" é isso: um mergulho no início da manhã, começando o dia de uma maneira diferente de até então. Na faixa homônima ao cd ele diz que fazia tempo que não ia à praia e ela finalmente o levou à praia (e o fez redescobrir o(s) significado(s) do amor, certamente). Eu espero sinceramente que você possa sentir tudo isso ao ouvir esse álbum e viver essa fase também. E, por favor, ame "albatroz" (um amorzinho de música que também resume bem isso tudo): 

"entre condomínios e domicílios empoleirados entre utensílios; inutensílios empoeirados entre o desatino, o desaviso, o desamparado o homem antigo, o homem aflito e o homem amargo  
o dia alaranjou" 

Só sei que eu também quero amanhecer, alaranjar. 

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